Desde antes de as crianças começarem a falar suas primeiras palavrinhas, eu já ia sempre repetindo e ensinando aquelas que considero mágicas: por favor, obrigada, me desculpa e com licença.
E eles aprenderam! Ah sim, as crianças são umas esponjinhas! Os cérebros rápidos e novinhos em folha, ávidos por extrair do mundo tudo o que ele estiver disponível para oferecer, aprendem a falar de tudo, as palavrinhas mágicas e outras não tão mágicas assim….
E também “aprendem” a esquecer de usar as palavras mágicas quando lhes convém, mas vou falar disso em outro post!
Hoje quero falar sobre a palavra mágica DESCULPA! Você pode até nunca ter prestado muito atenção, mas esta é uma das palavras mágicas de maior poder que existem!
Dizer DESCULPA nem sempre é fácil, ás vezes, é uma palavra que sai arranhada da nossa garganta, tem gente que nunca consegue dizer e ás vezes, uma grande confusão, uma grande mágoa ou uma grande angústia, podem ser resolvidas quando alguém simplesmente diz DESCULPA!
Mas ela só é mágica de verdade, só faz efeito, só funciona, quando sai de dentro da gente com o poder do nosso real arrependimento! Só dizer DESCULPA sem estar sentindo de verdade o arrependimento, não adianta nada!
E por aqui, descobri que apesar de ter ensinado para as crianças quais eram as palavras mágicas e porque elas são mágicas, eles haviam esquecido…
Sabe quando uma palavra vira automática? Quando você nem pensa pra falar?
Aqui em casa estava assim, qualquer coisa que acontecia, qualquer discussão que começava, um já gritava “DESCULPA” daí, o outro continuava a reclamar, falar e argumentar e aquele que já havia pedido desculpa gritava mais alto: “eu já pedi DESCULPA, pô!”
Tudo errado, né?
Me diz, de que adianta você abrir a boca pra gritar desculpa pra alguém que está chateado com você? Quais são as chances de a pessoa que está chateada te desculpar de verdade se você está gritando o seu pedido de desculpas como se o simples fato de abrir a boca para soltar esta palavra fosse capaz de reparar qualquer dano?
Nenhuma chance!
E foi isso que tive que sentar para explicar – de novo, para os meus filhos e – pasmem (ou não!) para o meu marido!! Sim porque, nós adultos também entramos neste automático da vida, também achamos que por causa de toda a carga e pressão que carregamos nos nossos ombros, temos o direito (ou a desculpa) de simplesmente despejarmos coisas automáticas que servem apenas para manter a harmonia da casa e família, sem que de fato estejamos sentindo aquilo de verdade!
Antes de abrir a boca para pedir DESCULPA, você precisa sentir a necessidade de pedir desculpas. Precisa sentir o arrependimento brotar de dentro de você. Quando você sentir, ele vai tomar forma e vai precisar sair de dentro da sua garganta.
Ás vezes, vai doer pra ele sair, porque outros sentimentos que também moram dentro da gente, como o orgulho e a vaidade, ficam segurando o arrependimento e tentando proibir que ele se liberte da gente. Mas se você sente que ele está aí dentro, precisa colocar pra fora sim!
E não é só isso!
Só pedir desculpa, por mais verdadeiro que seja, não repara o dano causado, a mágoa que o outro está sentindo e se a M… que você fez foi física ( como por exemplo, quebrar alguma coisa) pedir desculpa com certeza não recupera o material estragado.
E como faz então?
Pedir desculpas é um processo de 2 partes: primeiro você sente o arrependimento nascer dentro de você, de verdade. Depois, você solta ele e já procura um jeito de reparar o dano que você causou. Perguntar para a outra parte como você pode reparar o seu erro, é um excelente caminho!
Quer ver dois exemplos práticos da DESCULPA que funciona?
Caso 1
Pedro rasgou um trabalho de escola da Catarina, foi sem querer, ele não sabia que era um trabalho de escola, achou que fosse só um desenho. Rasgou, ela chorou, os dois começaram a maior discussão, ela chorava e ele gritava “DESCULPA! FOI SEM QUERER!”
Me intrometi na confusão pra entender o que estava acontecendo, ouvi os 2 lados e expliquei para o Pedro que, ele não tinha o direito de rasgar nada que fosse da irmã ainda que não fosse nada QUE ELE julgasse importante. Simplesmente porque não era dele!
Isso estabelecido, fica entendido que não importa o que você pensa sobre a importância ou não de uma coisa, se ela não é sua, você não pode rasgar, estragar, sujar, tomar posse, ferir… Agora, o dano já havia sido causado, e é direito da pessoa ofendida ficar magoada, independente do quanto você peça desculpas!
Então, o melhor que você pode fazer é tentar reparar o dano para conseguir que a mágoa da outra pessoa vá embora, e ela também possa te desculpar de verdade! No caso do Pedro e da Catarina, o jeito foi ele se oferecer para ajudá-la a refazer o trabalho, e por mais que ela dissesse chorando que nunca mais iria conseguir fazer outro igual (o que provavelmente era verdade) o fato de o irmão ter pedido desculpas de verdade, reconhecido que errou e se dispondo a trabalhar com ela para resolver, fez com que os ânimos se acalmassem, ela pôde desanuviar olhos, cabeça e coração, desculpou o irmão e enxergou o novo projeto com carinho. Final feliz!
Caso 2
Numa destas manhãs em casa, eu estava falando sobre qualquer coisa sem muita importância com o marido e ele respondendo, de repente, eu disse alguma coisa que ele era contra e ele respondeu com a maior grosseria gratuita. Eu dei risada, tentei levar para um tom de brincadeira e sublimar que aquilo havia me magoado e foi sem necessidade, mas ele insistiu na grosseria e daí, eu disse que estava muito chateada!
A discussão se armou! Eu fiquei chateada e ele não aceitava que eu estivesse chateada com aquilo porque não foi a intenção dele me chatear, e pra ele, se ele não tinha a intenção de me magoar então, eu não tinha o DIREITO de estar chateada!
Opa! Alto lá!
Eu, ele, você, todo mundo tem direito de se chatear com qualquer coisa que julgar ofensiva para si! Que fique claro que, aquele que se sente ofendido é quem pode dizer se doeu e porque doeu, não importa o que você pensa, ou qual foi a sua intenção! Se você magoou alguém, peça desculpas e pronto!
Mas ele não queria pedir desculpas porque não achava que havia feito nada de errado, e então, a DESCULPA, não nasceu dentro dele para poder sair, a vaidade e o orgulho estavam ganhando. Mas outro sentimento se manifestou: o medo!
Pode rir! Mas quem vive uma vida de casal sabe que, muitas vezes, a gente pede desculpas sem ter vontade de pedir apenas por medo de abalar aquela harmonia que eu disse lá em cima. Ninguém quer viver em guerra dentro da própria casa, certo?
Mas fazer uma coisa assim, não seria repetir o erro das crianças?
Anham!! É isso mesmo! E existe outra verdade mais universal que não seja o fato de que, ao crescermos, subimos muros de proteção emocional em volta da gente que nos fazem agir contra o que sentimos e sermos menos honestos e assim, vivermos a vida com máscaras que não queríamos usar? Pois é….
Expliquei pra ele que não importava o que ele achava ou quais eram as intenções dele ao dizer aquelas coisas. A única coisa que importava era que naquele momento, ele havia me magoado e saber quais eram as intenções dele, não mudavam o fato de que eu estava magoada!
Então, ele fez a clássica “eu não acho que estou errado, mas ME DESCULPA…” se você não acha que está errado, por que está pedindo desculpas? Você não precisa achar nada, eu não estou julgando se você errou ou acertou ao ser grosseiro, eu só quero que você perceba que estou magoada, que quem me magoou foi você e isso é um ERRO! Comigo ou com qualquer pessoa! Magoar outras pessoas é errado, simples assim!
Enfim, ele entendeu meu ponto de vista, pediu desculpas por ter me magoado, e não pelo o que disse, ou pelo o que pensava. Ele tem o direito de pensar diferente de mim, é claro! E eu jamais quero que ele concorde comigo 100% das vezes, isso seria a maior chatice!
Mas como faz pra reparar este tipo de dano? O emocional, que a gente não resolve fazendo um novo desenho?
Mudando atitudes! E é aqui que a coisa complica e precisa de um pouco mais de maturidade, porque a parte ofendida precisa ter fé de que quem ofendeu realmente está arrependido e vai mudar, vai pensar melhor antes de ser grosseiro, antes de ser rude, antes de dizer coisas que servem apenas para magoar…
E nem sempre a outra parte tem maturidade o suficiente para isso, ou amor, ou fé. Mas a lição sobre sentir o arrependimento verdadeiro, pedir desculpas e tentar reparar o dano, foi ensinada e cumprida. Cabe agora a próxima: perdoar!
Porque aprender a perdoar talvez seja uma das lições mais difíceis da vida, e mesmo que nós, pais e mães, ainda não saibamos direito como colocar em prática esta parte nas nossas próprias vidas, é nosso dever ensinar aos nossos filhos a serem tolerantes!
Lembra que eu disse que eles são esponjinhas? Pois é, eles são mesmo! E não sei vocês, mas o meu “projeto mãe” é criar seres humanos que sejam muito melhores do que eu! É ensinar pra eles tudo o que sei e o que estou aprendendo por causa deles, é mostrar um caminho onde os sentimentos existem sim, onde ás vezes, a gente se machuca, mas tem conserto!
Acredito muito que não existe um manual do equilíbrio perfeito entre proteger os nossos sentimentos e mantermos os corações abertos para perdoar e amar. Mas a busca por este equilíbrio é meu guia, e é o que tento transmitir aos meus filhos!
É trabalho fácil?
Claro que não! Até parece que só aconteceram estes dois casos e a minha casa virou o lar mais feliz do mundo com todo mundo se dando super bem e sem nunca discutir… Tem dias que cada um está com um tornado interno mais forte que o outro e quando se chocam, tremem o universo!
Mas a gente segue insistindo, ensinando, apaziguando, dando uns gritos ás vezes (porque sim!) e acreditando que quando crescerem, vão fazer deste mundo um lugar muito mais tolerante e cheio de perdão.
Porque diz a lenda que, DESCULPA, entoada do jeito certo (já diria Hermione) é uma palavra mágica poderosíssima, e praticá-la pode mudar o mundo! #ficadica
Bjs! ;)