Desabafos e Inspirações Vida de Mãe

O dia em que salvei minha filha

mãe e filha
Eu cuido dela, ela cuida de mim <3 Moya dusha <3

Antes de me tornar mãe, eu já sabia que as memórias da infância, aquelas de coisas simples, do dia a dia, eram as mais importantes, as mais profundas, as que me marcaram de verdade e que me fizeram ser quem sou, para o bem e para o mal.

Quando me tornei mãe, passei a encarar esta verdade da vida como uma espécie de “guia”, funciona assim: eu sei que tudo, absolutamente tudo, o que eu fizer vai impactar de alguma forma os meus filhos, para o bem e para o mal. Por isso, desde que me tornei mãe, todas as minhas atitudes são pensadas, repensadas, pesadas, analisadas…

Claro que isto também impactou a minha vida e a minha forma de viver, posso dizer que hoje vivo em busca do equilíbrio entre ser “um bom exemplo” e ser livre, fazer as coisas que eu gostaria de verdade, sem ficar presa ao “o que meus filhos vão pensar?”, mas não custa consultar esta espécie de “segunda consciência”, enfim…

Estes dias eu tive um exemplo claro de como uma simples atitude pode mudar tudo, pode causar ou não, um trauma na vida de uma criança, como um gesto de carinho, amizade e compaixão pode transformar uma história que poderia ser ruim por muitos anos na memória da minha filha, numa coisa que ela vai lembrar e sorrir, foi assim…

Era mais um dia de trabalho exaustivo, corrido, cheio de trânsito, eu morrendo de cansaço e fome quando o marido resolve ir me buscar no trabalho com as crianças. Fiquei super feliz de estar com eles mais cedo e decidimos parar no caminho para casa pra jantar em um restaurante.

Escolhemos um restaurante que as crianças adoram, dentro de um shopping, com uma área kids que eles amam e a noite estava muito agradável: crianças comeram tudo, foram para a brinquedoteca, eu e o maridus terminando de jantar e conversando prazerosamente quando eu escuto o choro da Cacá de lá da área kids.

Corri  ver o que estava acontecendo e o Pedro veio me encontrar no caminho: Mãe, a Cacá não quer levantar do chão!

Na hora eu pensei que ela tivesse caído, quebrado alguma coisa, mas quando cheguei, ela estava agachada, chorando muito, quando tentei me aproximar ela começou a chorar mais dizendo: Não, mãe! Eu não posso levantar! Eu não posso levantar!

Claro que eu estava já preocupada, mas abaixei na altura dela e disse: Calma, filha! O que aconteceu? Fala pra mamãe, eu vou te ajudar, está tudo bem!

Ela estava chorando muito, então começou a pedir desculpas: Mãe, eu não consegui segurar, desculpa, mãe! Eu não sei o que aconteceu! Eu não posso levantar!

E o choro vinha, como uma cachoeira, um choro sentido, envergonhado, desesperado. Eu achei que ela tivesse feito xixi na calça, mas não, foi cocô mesmo! Uma diarréia daquelas tipo água, escorreu pelas pernas dela, ela estava vestida com o uniforme da escola, um shortz-saia com uma legging por baixo. Fui pegar ela do chão e ela me pediu: Não, mãe, não me pega, ninguém pode me encostar…

Foi de partir o coração ver minha pequena ali, acuada, envergonhada, desesperada, no chão, dizendo que ninguém podia encostar nela porque ela estava “muito suja” :(

Coloquei ela de pé, tirei o casaco, amarrei na cintura dela e disse: vem, vamos dar um jeito nisso, fica calma, vai dar tudo certo!

Ela não queria andar, não queria que ninguém visse, estava andando com as perninhas grudadas uma na outra, com medo de escapar mais, de as pessoas olharem, mas eu segurei firme na mão dela e disse: vem comigo, filha! Ninguém vai dizer nada, a mamãe vai resolver!

Passei reto pelo marido, saí do restaurante e entrei numa loja de calcinhas e pijamas que ficava em frente, comprei calcinhas novas, um conjunto de pijama, meias e da loja, entramos no banheiro do shopping. Coloquei ela em pé em cima da privada, tirei toda a roupa suja dela, peguei muitas folhas de papel, umedeci na água, coloquei sabão e fui limpando ela.

Limpei as pernas, as costas, bumbum, todas as partes sujas, coloquei a calcinha nova, o pijama lindo cor de rosa com estrelas, limpei o rosto dela molhado de lágrimas, penteei o cabelo, prendi e disse: pronto, tá novinha em folha!

Ela olhou pra mim, os olhinhos cheios de agradecimento, me deu um abraço bem apertado e disse: eu te amo, mãe! <3

Saímos do banheiro e voltamos para o restaurante, ela havia saído de lá chorando e morrendo de medo e vergonha, voltou saltitante e feliz com sua roupa nova, cabelo preso e sorriso no rosto!

Poderia ter sido uma noite que ela jamais esqueceria por causa da vergonha, eu poderia ter deixado o cansaço falar por mim e ficar irritada, dar bronca, pegar ela e enfiar no carro suja, envergonhada, com medo, chorando e acabar com a nossa noite ali mesmo, mas eu optei por me colocar no lugar dela, por deixar o meu coração cuidar disso, por salvar a minha filha de uma memória chata para uma memória de carinho, de futuras risadas, de amor.

Sim, com certeza esta foi uma noite inesquecível pra ela, mas não porque ela passou a maior vergonha da vidinha dela e sim, porque ela teve o carinho, a parceria, a solidariedade e a compreensão da pessoa que ensina a ela como agir e reagir nas situações da vida, da pessoa que é o seu exemplo, quem ela admira e ama, haja o que houver: EU.

Claro que antes deste episódio já tiverem trocentos (talvez até com cocô relacionado) em que eu agi da mesma forma, e é claro que este não será o último, mas foi a primeira vez que pude perceber como isto fez diferença pra ela, foi a primeira vez em que pude sentir que dei um bom exemplo de verdade, prático e real e o resultado foi imediato: um sorriso radiante que não tem preço!

E sem perceber, eu fui a heroína dela e ela foi a minha, me provando que vale a pena seguir este meu guia de amor, que a vida só faz sentido por causa destes pequenos momentos, em que sorrisos sinceros são alcançados e laços de ternura são tecidos para sempre!

#amomuitotudoisso

bjs ;)

PS: Ela está bem, a diarréia foi causada por muito chocolate comido antes do jantar! Já passou! :)

21 comentários

  1. Que lindo, isso é amor, amor verdadeiro e jogo de cintura em pensar numa solução rápida sem deixar traumas na filhota.
    Me emocionei ao ler a história.
    Parabéns por compartilhar este momento de amor e carinho.

  2. Oi, Loreta,

    Que post sensível e bonito!

    É isso mesmo: a vida é feita desses pequenos momentos em que podemos escolher entre deixar o cansaço, a irritação ou a rotina falarem mais alto, ou sermos o porto seguro que nossos filhos tanto precisam durante a infância (imagino que quando adultos também).

    Obrigada por compartilhar sua história e dar oportunidade para que nos lembremos disso.

    Beijos,

    Nívea

  3. Achei lindo o seu depoimento! Leio muito essas experiencias para fazer da infância da minha filha uma fase muito alegre e cheia de amor! Claro que as vezes erro e não consigo ter toda essa paciência, mas acho importante reconhecer e tentar mudar.
    Obrigada!

    1. Oi Fabiola, acho que todas nós temos dias em que o copinho da paciencia está vazio, é normal! Mas, o que eu aprendi com este episódio é que um gesto tão simples, um respirar antes de falar ou agir pode fazer uma diferença enorme e tenho tentado me lembrar disso sempre! A gente só aprende a ser mãe, sendo, né? rs Bjs ;)

  4. Olá.
    Sou papai de primeira viagem. Meu filho nascerá em 2 semanas no máximo e cheguei aqui nesse post enviado pela minha esposa.
    AO ver o tamanho do texto, confesso que fiquei com preguiça e não li. Fechei. Passaram alguns minutos e minha esposa questionou se eu havia lido, pois embora o assunto fosse sobre uma situação que envolve “cocô”, eu ia gostar e que ela tinha lido esse emocionado.
    Achei feio da minha parte ignorar algo que ela fez questão de compartilhar comigo.
    Voltei ao blog e li calmamente tudo.
    Dei a vida pra não chorar na metade, segurei firme e continuei lendo (até pq estou no trabalho e não poderia chorar).
    Ao final do texto, depois de ter me segurado muito pra não chorar, não consegui. Emoção falou mais alto. ME recompus e realmente o texto merece ser compartilhado e agradeço a ela por ter mandado pra mim e a você por ter compartilhado sua história.
    Algo simples pra gente, mas pra uma criança, é o maior desafio da vida dela, sair de uma situação complicadíssimas e sozinha. Ela tem uma grande mãe e vc uma grande filha que sabe que a mãe dela é o amor da vida dela. Parabéns!!!

    Fabiano Mello
    @kia_schnauzer

    1. Oi Fabiano, li o seu comentário e também me emocionei! rs É isso mesmo, os gestos mais simples são os mais valiosos, e que marcam pra sempre, né? Parabéns pelo bebê, muitas felicidades pra voces e voltem sempre pra bater papo! Bjs ;)

  5. Olá

    Comigo aconteceu algo bem parecido, minha filha se 3 anos , estava numa festa de uma amiguinha, passou mal e vomitou, estava com um um vestidinho lindo, novo, e todo sujo, ela começou a chorar ….. eu calmamente a levei até o banheiro, peguei um monte de papel, limpei ela todinha, coloquei uma roupinha limpa e ela voltou a brincar com as amigas, feliz da vida!!

  6. Que lindo, adoro vê pessoas que realmente assumem a maternidade para vida toda.
    Quando decidi ser mãe quis e quero ser pra vida toda, não quero apenas colocar filhos no mundo, obrigada pelo exemplo lindo e gratificante de vê!!

  7. Que lindo realmente me comoveu!
    Tenho duas filhas e volta e meia essas coisas acontecem, esse texto me fez repensar todas as minhas atitudes com relação às minhas filhas!
    Obrigado por dividir essa linda história

  8. Nossa, me emocionei com a sua história e olha que não sou nem mãe. Minha mãe foi e ainda é, mesmo eu com 28 anos rs, um exemplo para mim, minha heroína e a melhor companheira que eu posso ter nessa vida! O mundo precisa de mais mães (e pais!) que amem incondicionalmente os filhos e que não deixem o papel de educá-los para terceiros. Pais que sabem a hora de exigir e repreender, mas que também façam os filhos se sentirem seguros e protegidos para contornar os imprevistos da vida de cabeça erguida. É na infância que o futuro adulto aprende a se valorizar. Parabéns por ser mãe de verdade!

  9. Nossa, me emocionei com a sua história e olha que não sou nem mãe. Minha mãe foi e ainda é, mesmo eu com 28 anos rs, um exemplo para mim, minha heroína e a melhor companheira que eu posso ter nessa vida! O mundo precisa de mais mães (e pais!) que amem incondicionalmente os filhos e que não deixem o papel de educá-los para terceiros. Pais que sabem a hora de exigir e repreender, mas que também faça os filhos se sentirem seguros e protegidos para contornar os imprevistos da vida de cabeça erguida. É na infância que o futuro adulto aprende a se valorizar. Parabéns por ser mãe de verdade!

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